sábado, 20 de junho de 2009

MEMÓRIAS DE VIAGEM - PARTE 2

A VIAGEM

O Apolo, mais os companheiros de viagem, me apanharam em casa às 07h17min. Pouco além de Belo Horizonte, um derramamento de óleo na pista nos custou longos 40 minutos. Foi quando Túlio manifestou a idéia de expor seu gosto musical levado numa coleção de CDs, idéia esta que a Dora deletou anunciando que o carro não possuía aparelho de som com recurso para executá-la. Acho que gostei daquilo, talvez com medo de que o Túlio tivesse em seu “refinado gosto”, coisas do tipo “Zezé de Camargo e Luciano”, “Amado Batista” etc. Lembro-me de ter visto, pelo menos 12 vezes, neste período, o Apolo abrir a porta do carro, sair e voltar anunciando: “vamos andar mais 10 metros”.

Paramos num restaurante em Paropebas. Lugar bastante aconchegante, onde eu e o Apolo tomamos um modesto cafezinho com leite acompanhado de uma coxinha. Já Túlio e Dora, depois de haverem tomado café com leite e e comido pão de queijo, deram com o anúncio de pão com lingüiça. Ficamos eu e Apolo esperando que os dois se enliguiçassem. Também lá, Túlio tomou suas três primeiras Brahmas.

Retomamos a viagem e, pouco à frente, outro desconforto: Obras de duplicação da rodovia. Mais uma hora e tanto de espera. Desta feita Túlio deu uma dentro: Sacou de seu alforje três exemplares da coleção do Pasquim e passamos a ler e interpretar as piadas mais interessantes, o que fez da espera um momento de lazer com boas e sinceras gargalhadas, inclusive do Apolo, a quem, por uma deferência especial de nós três foi dado o direito de rir com a gente, sob a rígida condição de que não perdesse a concentração na função que lhe confiáramos: A de ser o motorista da companhia. Ele até que foi bem, salvo algumas “derrapadas” que lhe valeram algumas admoestações de Léo do Peixe, quando já em Pirapora.

Chegamos em Pirapora às 14h40min. A idéia de almoçar com o Léo, foi transferida pra janta. Recebidos com festa pelo nosso anfitrião que dividia sua casa com um garimpeiro de nome Edmilson, gente de boa qualidade, do qual cobrava por aluguel, a leitura de bons livros, fazer o café da manhã e a pesagem dos peixes para venda.

Descarregamos a bagagem e pouco depois estávamos indo pra Barra do Guaicuí, poucos quilômetros além de Pirapora, onde estava acontecendo as festividades que marcavam a chegada da expedição realizada pelo Projeto Manuelzão. Em razão da conquista de alguns centímetros a mais em sua circunferência, Léo conquistou também o privilégio de ir ao lado de Apolo, pois se assentasse atrás, um de nós, eu ou o Túlio, voaria pelo para-brisa. O fato foi de providencial valia, já que exímio orientador de tráfego, Léo passou a instruir o nosso motorista sobre como dirigir em Pirapora sem que fôssemos incomodados em nossa “rabeira” por algum Piraporense de maior experiência ao volante. Apolo seguiu rigorosamente as aulas ministradas e nenhum contratempo foi registrado. A Barra do Guaicui é uma pequena Vila, acolhedora, de povo simples, testemunha privilegiada do encontro do Rio das Velhas com o Rio São Francisco, beleza somente comparada ao olhar de Adriana, disfarçada por detrás das lentes de seus óculos, mas perfeitamente visível às almas carentes que habitam corpos de igual carência e que, por coincidência vem a ser o meu caso. Mas voltemos à Barra antes que Adriana embarque em minha imaginação e me conduza para lugares outros de difícil acesso aos comuns mortais de nossa caravana.

Na Barra, tratamos de nos restaurar, cada um de conformidade com o tamanho de sua fome a generosidade de seu bolso. Eu e o Léo, comemos um tropeirozinho sem vergonha, com um pouco de arroz pálido, refeição pela qual desembolsamos cada um importantes R$4,00, optando, em termos de bebida, por um copo de água da COPASA, gentilmente oferecido pela empresa em veículo ali estacionado para este fim. Túlio, que com certeza deve ter convencido algum desavisado a conceder-lhe um empréstimo para a viagem, acompanhou o Apolo e a Dora a uma barraca com toldo em lona e confortáveis cadeiras para uma lauta refeição constituída de arroz de primeira, tropeiro com torresmo e outros tropeços, e um vistoso bife acebolado a ironizar o feijão com farinha que eu comera minutos antes, de pé, encostado na estaca duma bitaca a alguns metros dali. Não havia champanha. Apolo e Dora contentaram-se com um guaraná diete e Túlio com três ou quatro cervejas. Após o almoço fomos às margens do Rio das Velhas, presenciar a bucólica partida do velho Benjamim Guimarães para destino ignorado. É sempre bom desconhecer o destino, quando partem aqueles aos quais amamos. Assim, podemos conceber em nossa imaginação, a idéia de que foram logo ali e que também logo estarão de volta. Embora simplista, é uma forma de alterar a eternidade das coisas. Antes de sairmos da Barra, fui “depenado” em mais R$ 10,00, tomados por uma jovem para deixar que eu trouxesse um oratório artesanal com uma Santa Terezinha pra dar de presente pra D. Maria. Pensei em sugerir ao Túlio que trouxesse uma pra D. Ágda, mas percebi que a que eu adquirira era única e, além disso, o Túlio havia se afastado pra comprar mais uma latinha de cerveja.


continua....

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